Frases Popularmente Utilizadas no Poker que Pode não Estar a Aplicar Corretamente!

Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.

Todos sabemos que o poker tem o seu próprio jargão. Mas alguma vez pensou no quão aleatório e pouco relacionado com o tema ele realmente é? Honestamente, termos como “o Vilão tinha um draw melhor que eu” e “eu mandei dois barris” soam muito a faroeste.

Grande parte do jargão do poker tornou-se em algo totalmente natural para muitos jogadores com longevidade no mundo do poker. Expressões como ‘em tilt’, ‘cooler’ e ‘backdoor’ saem-nos da boca diariamente. É algo normal.

E eu percebi o quão bizarro esta gíria soa quando tento explicar o jogo a alguém que não o joga.

Com tanto jargão para dominar no poker, é expectável que as pessoas cometam erros. Aliás, o jogo está em constante evolução, por isso como é que nos conseguimos manter atualizados com todas essas expressões?

Numa tentativa de o fazer, olhemos para alguns termos do poker que são usados frequentemente de uma forma demasiado liberal. Aproveite e veja se há algum que tem estado a aplicar incorretamente ou a confundir com outra coisa.

Índice

1. Angle Shooting
2. Backdoors
3. Pump Fake
4. Front-Door Draw
5. Board de Dois Tons
6. Ranges de Poker
7. Dirty Stack
8. Fold Equity

Comecemos com um termo que provavelmente já ouviu, mas que pode ser um pouco generoso na sua classificação. Em termos literais, angle shooting é o ato de fazer algo matreiro ou intencionalmente dissimulado. O angle shooter [aquele que faz angle shooting] está a tentar ganhar uma vantagem desonesta.
 

Há várias formas diferentes de angle shooting, mas alguns exemplos comuns incluem o seguinte:

• Anunciar a sua mão incorretamente de forma intencional em showdown;
• Simular uma ação (pump fake);
• Posicionar a sua stack de fichas de uma forma que engana o seu adversário (como usar um ‘dirty stack’ ou esconder as fichas grandes atrás das mais pequenas).

Angle shooting não é propriamente batota no poker porque, tecnicamente, a maioria está dentro daquilo que é considerado legal na mesa de poker. Masé, quase unanimemente, considerado má etiqueta devido à sua natureza enganadora.

A predisposição de um jogador para fazer angle shooting diz muito sobre a sua credibilidade como pessoa. Portanto, angle shooters intencionais devem ser condenados como batoteiros.

E parece que as salas de poker concordam. Alguns casinos implementaram recentemente regras mais rígidas para minimizar o impacto destes batoteiros.

• É agora comum que qualquer movimento para a frente seja considerado uma aposta ou um fold (para evitar os pump fake).
• Os shot clocks em torneios podem minimizar a perda de tempo desonesta e o slow-play.

No Main Event das WSOP 2016, o floor do torneio considerou o discurso de Will Kasouf como angle shooting, numa mão contra Stacy Matuson. Ele foi castigado com uma órbita completa sem poder jogar.

Embora a maioria de nós reconheça a diferença entre angle shooting e quebra de regras, a maioria dos jogadores de poker é demasiado tímida para o denunciar publicamente.

Um backdoor refere-se ao potencial que um jogador tem para melhorar a sua mão com as cartas do turn e river em conjunto. Backdoor flushes são o exemplo mais comum. Um backdoor flush draw de paus, por exemplo, precisaria que tanto o turn como o river fossem cartas de paus para lá chegar.

Backdoor draws adicionam equidade extra à sua mão, mas nada de extraordinário. Por exemplo, um nut flush draw dá-lhe cerca de 4% de equidade. Completará um backdoor flush uma a cada 25 vezes (se conseguir ver tanto o turn como o river).
 

Talvez sinta que já compreende o conceito, considerando quantas vezes provavelmente ouviu o termo a ser utilizado nas mesas. Mas o significado de backdoor é mais incompreendido do que o próprio conceito.

Os jogadores fazem cada vez mais calls e bluffs demasiado arriscados com pouco mais do que um backdoor draw. Estes draws estão na moda, como o ‘click it back’ (min-raise) estava há dez anos atrás.

A frase “eu tinha backdoors” parece ser aquela que os jogadores proferem quando querem dar a entender que percebem muito da poda. Ou quando tentam justificar fazer call numa situação em que provavelmente não o deveriam fazer.

Não seja como um desses jogadores. A justificação que eles dão é um sinal de fraca disciplina e de preguiça. Veremos mais alguns exemplos disto nos capítulos seguintes.

Lembre-se, backdoor draws são difíceis de completar. Por isso, é melhor pensar neles como uma apólice de seguro do que como um motivo concreto para fazer uma grande jogada.

Aprenda a trabalhar com o conceito como uma última saída caso tudo o resto falhe. Acabará por dar por si a tomar decisões muito melhores.

Nota: Backdoor draws são mais relevantes quando tem (ou quer tomar) a iniciativa ou está a planear um bluff. Eles melhorarão para um draw com relativa frequência no turn, o que permite mais semi-bluffs.

Um pump fake é um tipo de angle shoot em que um jogador move uma stack de fichas para a frente de forma a parecer uma aposta. O jogador acaba por puxar a stack para trás dizendo que não apostou. (Também o pode fazer com as cartas, para dar a entender que vai fazer fold.)

O objetivo é avaliar a reação do adversário para ver como ele responderia antes de se comprometer com a jogada. É um movimento baixo e dissimulado; não o faça!
 

Este conceito é similar a ‘backdoor’. Mas um ‘front-door’ draw é feito no flop. Este termo não é muito comum, já que é apenas relevante quando existem múltiplos flush draws. Mas é útil se quiser ser mais conciso ao entediar as pessoas com as suas histórias de bad beats.

O termo dois tons é bastante importante no poker. Este conceito pós-flop é razoavelmente fácil de compreender. Refere-se aos naipes presentes na board.

Muitos de nós estamos provavelmente familiarizados com um flop rainbow ou monotom (que é um flop com três cartas do mesmo naipe).

• Um flop de dois tons é simplesmente um que é construído por cartas de dois naipes diferentes.

Apesar de ser relativamente simples, a ideia de boards de dois tons é um conceito que é importante compreender. A maioria dos jogadores têm tendência a jogar muito mais agressivamente nesses flops do que em flops de um naipe só (monotom). Por isso, as boards de dois tons podem ser muito importantes. Os jogadores costumam fazer apostas de proteção ou em semi-bluff, o que engorda o pote. 

Quando olhamos para o jogo no turn numa board de dois tons como 5♥J♥9♠7♠, é fácil ver como as coisas podem ficar apimentadas devido aos múltiplos flush e straight draws.

Embora a maioria dos jogadores tenham pelo menos uma ideia do que ranges de mãos significam, é outro termo que é mal utilizado por vezes.

Assim como acontece com a noção de ‘backdoors’, a má compreensão de ranges não se deve a não saber o que um range é. Tem mais a ver com os jogadores utilizarem o termo indevidamente para justificar qualquer que seja a narrativa que lhes dá jeito no momento.

Em termos de meticulosidade, vamos esclarecer que um range é simplesmente um grupo de mãos de poker. É um conceito bastante simples. As pessoas começam a não fazer sentido, contudo, quando se trata de discutir o range de alguém numa mão.

Os jogadores concentram-se demasiadas vezes apenas no topo (a parte forte) ou no fundo (a parte fraca/de bluff) do range de um adversário. E mesmo quando se lembram de avaliar ambas as partes, esquecem-se muitas vezes das partes intermédias.
 

A conclusão mais importante é que o range de um jogador consiste em TODAS as mãos possíveis que ele pode ter em determinada situação. Embora isso possa ser dividido em secções menores, é essencial considerá-las todas antes de tomar as suas decisões. Dar demasiado valor a um range pode resultar em jogadas muito más.

Também é necessário contextualizar os ranges atribuídos, já que o range de um jogador é quase inteiramente situacional. (Embora a personalidade, mentalidade e estilo de jogo também tenham impacto).

• Muitas vezes ouve “bem, eu vi-te jogar 97s há bocado, por isso essa mão está no teu range”.
• Ou um jogador começa a listar mãos como 74, J8 ou A6 quando está contra um adversário UTG.

Pensar desta forma é um erro. Estes jogadores estão a ignorar por completo o contexto da situação. Até a diferença mais subtil na stack, posição na mesa ou mentalidade pode mudar completamente a situação.

Temos de considerar tudo quando estamos a construir ranges.

O termo “range” faz com que muita gente sinta que sabe do que está a falar. É reconfortante usar terminologia e jargão. Mas, a realidade é que a maioria dos jogadores estão simplesmente a fingir que sabem muito do que estão a falar, ao utilizar estes termos.

Lembre-se, o termo range deve ser usado da mesma forma que constrói os seus ranges:

Corretamente!

É possível que não esteja muito familiarizado com este termo, especialmente se jogar online. Um ‘dirty stack’ é uma torre de fichas desorganizada, dificultando a contagem por parte dos adversários. Esta situação pode, muitas vezes, ser acidental ou o resultado de truques com as fichas. Mas alguns jogadores têm um ‘dirty stack’ intencionalmente, numa forma de angle shooting.

• Nesse caso, um jogador pode misturar intencionalmente fichas de cores similares para deturpar o verdadeiro tamanho da sua stack.
• Ou pode, “acidentalmente”, colocar uma ficha de maior valor no meio das fichas de menor valor quando fizer uma value bet para provocar um call de forma enganadora. 
   

É comum ter uma stack de fichas mais pequena com que está a “brincar”. Mas a maioria dos casinos encorajam os jogadores a organizar corretamente as suas restantes fichas, caso sintam que a desorganização da stack está a abrandar o ritmo de jogo ou a enganar os jogadores.

Este termo é utilizado na mesa de poker mais frequentemente do que um frasco de desodorizante num balneário masculino. Portanto, é outro conceito que as pessoas tendem a se sentir confortáveis em usar. Posto isto, é outro termo aplicado de forma muito preguiçosa.

Na verdade, fold equity é um conceito simples, muito mais fácil de entender do que de calcular. Sem complicar muito as coisas, a sua fold equity é baseada no seguinte:

A percentagem de equity que você tem no pote, com base no tamanho do mesmo vs o quão frequentemente espera que o seu adversário faça fold.

• Digamos que espera que o seu bluff ganhe cerca de 20% das vezes.
• Teria €10 de fold equity num pote de €50 e €30 num pote de €150.

Bastante simples, certo?

Teoricamente, a ideia de fold equity é bastante simples. Mas os problemas surgem na rapidez com que as pessoas a avaliam. Apenas temos fold equity contra o range de fold do nosso adversário. Portanto, temos de considerar quanto do seu range total isto representa antes de decidir se temos fold equity suficiente para apostar.

É demasiado frequente os jogadores justificarem um bluff surreal com “bom, eu tinha fold equity”. Normalmente, fica claro pela qualidade de um bluff que o jogador gastou um mero nanossegundo a avaliar o range do seu adversário e a sua fold equity.

A utilização do termo ‘fold equity’ na mesa é frequentemente outro exemplo de jogadores que aplicam preguiçosamente o conceito para justificar a jogada que desejam fazer. Embora estejam indubitavelmente certos sobre a existência de fold equity, não é preto no branco.

A fold equity é quantificável. Portanto, incluí-la nas suas decisões requer tempo e habilidade.

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Espero que tenha gostado desta revisão e esclarecimento sobre algumas das frases de poker mais mal aplicadas nas mesas!