Aviso: O conteúdo aqui apresentado tem uma finalidade exclusivamente informativa sobre um tipo específico de jogo e como jogá-lo. O objetivo deste conteúdo não é nem promover nem disponibilizar um tipo de jogo, mas simplesmente informar o jogador acerca de como jogá-lo.
A imagem é tudo. Esta velha máxima aplica-se a muitos aspetos da vida, mas é um conceito-chave nos jogos de poker. Seja num torneio de poker ou num cash game, a forma como te apresentas pode ser determinante para alcançar o sucesso.
Os outros jogadores podem captar a tua personalidade geral e a tua abordagem ao jogo, e essa perceção pode influenciar a forma como jogam contra ti.
Este fator é crucial para conseguir aqueles calls e folds importantes, enquanto disputas as fichas nas mesas de poker ao vivo ou online.
Negreanu e a Imagem Solta e Descontraída
Com décadas de experiência no poker, Daniel Negreanu já viu de tudo neste mundo. Com mais de 54 milhões de dólares em ganhos em torneios ao vivo, o seu currículo inclui sete braceletes das World Series of Poker e dois títulos do World Poker Tour.
Este verão, Negreanu conquistou um dos títulos mais cobiçados entre os profissionais, o Poker Players Championship de 50.000 dólares nas WSOP, embolsando 1.2 milhões de dólares.
Numa recente entrevista no podcast High Performance, Negreanu partilhou como utiliza a sua imagem de mesa, como um jogador alegre e conversador, para ganhar vantagem sobre os adversários.
“A minha persona exterior é como a de uma hiena a rir, porque estou sempre a rir, a fazer de conta que não sei o que se passa, coisas assim,” explica ele.
“Mas, por baixo disso, sou um verdadeiro camaleão, muito adaptável e sempre pronto para mudar com base na perceção, certo? Acho que a habilidade mais importante é a consciência – compreender como as pessoas te vêem e, depois, aproveitares-te disso.”
Negreanu explicou que jogadores como Phil Ivey adotam uma abordagem mais séria em relação à sua imagem na mesa. A persona calma e impenetrável de Ivey pode deixar os adversários em constante alerta.
Ivey mantém-se muito reservado e deliberado nos seus movimentos na mesa. Já Negreanu prefere uma abordagem completamente diferente — uma postura descontraída que incentiva os jogadores a colocarem fichas no pote.
“Eu quero as pessoas relaxadas,” diz ele. “Quero as pessoas a rir. Quero que baixem a guarda. Quero que se sintam seguras e confortáveis. Vamos supor que estou numa mão contra ti. Estou a tomar uma decisão. Muitas vezes começo a falar com o dealer, tipo: ‘Mas o que é que eu fiz a mim mesmo? Sou tão estúpido. Por que é que sequer pensei nisso?’
“Mas, na verdade, estou a observar-te o tempo todo enquanto tu te ris e descontrais, porque não sentes que eu estou a olhar para ti. Não sou do tipo super intenso que fixa o olhar nos outros de forma intimidadora.
“Eu quero que as pessoas fiquem desarmadas e uso um pouco de charme para as vencer, de modo que, quando saem da mesa, riem-se e dizem: ‘Ei, onde estão todas as minhas fichas?’”
Imagem Séria e Imperturbável – Chris Moneymaker
Tal como Ivey, Chris Moneymaker procurou projetar uma imagem séria e sólida durante a mesa final do Main Event das WSOP de 2003. Moneymaker era um amador que ganhou o seu lugar no torneio através de um satélite online e não tinha nada a perder.
Os óculos de sol espelhados escondiam os seus olhos, impedindo que dessem qualquer pista, enquanto ele escrevia um dos capítulos mais importantes da história do poker.
Na mesa final, a abordagem estoica de Moneymaker traduziu-se numa agressividade intensa, deixando os adversários desequilibrados e atordoados.
“Na primeira parte da mesa final, estava em piloto automático,” comenta no livro The Moneymaker Effect. “Não joguei muitos potes; não queria envolver-me. O meu plano era recuar e deixar que os outros jogadores se eliminassem até restarem poucos na mesa.”
Contudo, mais tarde mudou de estratégia e tornou-se aquilo a que chamou “uma versão em miniatura de Stu Ungar.” A sua imagem inicial de jogo conservador contrastou com um estilo mais ativo, que lhe valeu pote atrás de pote. A estratégia de Moneymaker deu frutos, e ele acabou por fazer história, conquistando $2,5 milhões.
“Não sei o que aconteceu quando ficámos três na mesa,” disse. “Simplesmente comecei a fazer raise em todas as mãos. Estava a destruí-los com agressividade.”
Abordagens Mais Combativas
Outros jogadores podem adotar abordagens diferentes em relação à sua imagem na mesa. Por exemplo, Phil Hellmuth traz regularmente a sua persona de “poker brat” para os jogos. O vencedor de 17 braceletes WSOP é conhecido pelos seus desabafos, insultos e birras.
Phil Hellmuth
Esta abordagem direta pode ser enlouquecedora para alguns adversários, e também pode desestabilizá-los, beneficiando Hellmuth no processo. Um jogador em tilt no poker por causa das provocações de Hellmuth pode ser mais propenso a fazer calls e raises não com base nas suas combinações de poker ou leituras sólidas, mas sim na emoção.
Esta atitude descuidada ao enfrentar jogadores como Hellmuth pode custar fichas aos adversários.
“Quando o meu sangue começa a ferver, depois de perder um pote significativo, não faz sentido, a muitos níveis, e no entanto acontece”, escreveu Hellmuth sobre os seus colapsos emocionais na mesa na sua autobiografia Poker Brat.
“Conscientemente, sei que não devia deixar que um mau pote, uma má hora ou um mau dia me afetassem tão profundamente a nível emocional. Conscientemente, sei que não devia repreender outros jogadores pelas suas jogadas vencedoras ou queixar-me de como fui azarado ao perder um pote.”
Will Kassouf
O jogador inglês Will Kassouf adota uma estratégia semelhante, a que chama “speech play.” O termo é apropriado, pois Kassouf não parava de falar durante o Main Event das WSOP 2016.
Na sua caminhada até ao 17º lugar e um prémio de $338.000, o constante falatório, provocações aos adversários e jogadas lentas de Kassouf frustraram tanto jogadores como espectadores. Kassouf defendeu que o seu estilo era um jogo psicológico para manter os adversários desconfortáveis, levando-os a cometer erros.
“Olha para as tuas cartas com antecedência,” disse-lhe Cliff Josephy, num momento de frustração durante o Main Event. “Não precisamos deste circo.”
A imagem de Kassouf na mesa era, sem dúvida, irritante. Mas, por vezes, conseguia desestabilizar os adversários, como quando fez um enorme bluff com um 9-alto e levou um jogador com Damas a fazer fold.
Jamie Gold
Embora muito menos abrasivo que Kassouf, Jamie Gold usou o seu próprio estilo de speech play e táticas de jogo psicológico para vencer o Main Event das WSOP 2006, embolsando $12 milhões. Tinha o dom de persuadir os adversários a fazer call ou fold ao longo do torneio.
Gold parecia ter o toque de Midas, levando os adversários a fazer call contra as suas mãos fortes e fold contra as fracas. Esta estratégia tornou-se numa marca do seu jogo, deixando os adversários desorientados. Nunca sabiam se estava a fazer bluff ou se tinha uma boa mão.
A conversa na mesa também frequentemente suscitava reações dos adversários que Gold conseguia interpretar, ajustando o seu jogo: fazendo raise quando pareciam fracos ou fold quando pareciam fortes.
Como diz o ditado no poker: “know when to hold’em, know when to fold’em” [saber quando continuar e quando desistir].
Importância da Imagem na Mesa no Poker – Conclusão
Usar a tua imagem na mesa pode ser uma grande vantagem. Ter consciência e compreender como os outros jogadores te vêem como jogador abre oportunidades.
- Se preferires um estilo mais conservador, os adversários podem dar-te mais crédito ao fazeres apostas altas ou raises. Mistura um bluff ocasional, e poderás ganhar mais potes.
- Por outro lado, se jogares mais mãos e fores mais agressivo, os adversários podem não conseguir prever o que tens. Essa perceção pode compensar quando tiveres uma mão forte.
A tua imagem na mesa deve ser uma arma essencial no arsenal de qualquer jogador de poker.