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O mundo do poker e dos jogos de sorte e azar perdeu uma figura lendária em Setembro passado, com o falecimento de Archie "the Greek" Karas, que protagonizou uma das mais improváveis séries de vitórias em Las Vegas, em 1995.

A sua épica jornada começou com os seus últimos $50 e um empréstimo de $10.000 de um amigo de Las Vegas. Karas, que faleceu aos 73 anos, acabou por transformar isso em $40 milhões para, no final, perder tudo. Ele viveu a realidade da velha história em que um jogador de poker pode chegar a Vegas, jogar e sair com milhões de dólares.

“Alguns consideram-no um viciado sem solução”, nota o autor Michael Konik sobre Karas no seu livro The Man With the $10,000 Beats and Other Gambling Stories. “Alguns acham que ele é um herói. Outros acham que ele é louco.”

Archie Karas – Primeiros Anos de Vida

Karas nasceu a 1 de Novembro de 1950, na ilha grega de Cefalónia. Desde muito novo, o jogo era parte do seu quotidiano. A sua família enfrentava dificuldades financeiras, e Karas jogava ao berlinde para ganhar dinheiro e comprar comida.

Aos 15 anos, Karas decidiu seguir o seu próprio caminho e arranjou trabalho num navio, ganhando $60 por mês. Acabou por chegar aos Estados Unidos aos 17 anos, fixando-se em Los Angeles. Arranjou um emprego como empregado de mesa num restaurante ao lado de uma pista de bowling, que também tinha mesas de bilhar.

Karas sempre viu as semelhanças entre poker e bilhar. Nos tempos livres, era possível encontrar "o Grego" no centro de bowling a desafiar jogadores no bilhar e a ficar com o seu dinheiro. Quando as suas habilidades no bilhar se revelaram mais lucrativas, Karas abandonou o trabalho no restaurante.

Quando o bilhar começou a trazer menos ganhos, o Texas Hold’em tornou-se o seu jogo de eleição, e Karas tornou-se num frequentador regular das salas de cartas em Los Angeles. Isso significava tanto momentos de grandes vitórias como de grandes perdas.

A sua mentalidade de "tudo ou nada" talvez tenha vindo dos seus primeiros anos de vida. Segundo Karas, o dinheiro não significa assim tanto quando já se passou pela pobreza.

“Já fui milionário mais de 50 vezes e fiquei sem um tostão mais vezes do que consigo contar,” disse ele a Konik. “Provavelmente umas mil vezes na minha vida. Mas durmo da mesma forma, quer tenha $10 ou $10 milhões no bolso.”

Em 1992, os ganhos de Karas estavam praticamente esgotados, e ele estava reduzido aos seus últimos 50 dólares. Entrou no carro e seguiu para Las Vegas, à procura de um golpe de sorte. Após pedir $10.000 emprestados a um amigo, criou uma das mais poderosas e memoráveis histórias de poker de sempre.

Archie Karas – The Run

A maioria dos jogadores sonha em visitar a Cidade do Pecado e ter uma maré de sorte incrível depois de visitar os melhores lugares para jogar poker em Vegas. Esperam ganhar vez após vez, derrotar os casinos e encher os bolsos de dinheiro. No entanto, a maioria regressa ao aeroporto como perdedor, sendo que apenas alguns saem da cidade com algum lucro. Ganhar milhões de dólares é, para quase todos, uma fantasia.

Archie Karas provou que é possível, embora extremamente improvável. Chegou à cidade com a intenção de virar a sua sorte.

“Archie sabia que a sua falta de dinheiro não o impediria de conseguir uma grande vitória,” escreveu Konik sobre o jogador. “Nenhum buraco era demasiado fundo para ele sair de lá.”

Na sala de poker do Mirage, um dos melhores locais para jogadores de cartas na altura, um amigo emprestou-lhe $10.000, e Karas estaria, em breve, a jogar Razz Poker a $200/$400. Dobrou os 10 mil em poucas horas e deu início àquilo que ficou conhecido como “The Run”.

  • Karas seguiu então para outro casino e ganhou uns milhões de dólares a jogar bilhar high stakes.
  • O seu adversário, mais tarde, quis ir para a mesa de poker e o Grego ganhou mais $1 milhão.  
  • Seguiram-se duas semanas de high stakes poker heads-up contra Chip Reese e Doyle Brunson. Com blinds tão altas quanto $8.000/$16.000, segundo consta, ele ganhou mais $2 milhões.

O que diferenciou a série de Karas de muitas outras marés de sorte na história do poker foi o facto de grande parte dela ter sido documentada na televisão e em outros meios de comunicação.

Por exemplo, o jornal Las Vegas Review-Journal noticiou os seus ganhos na mesa de bilhar. Outros jogadores também testemunharam e documentaram as suas outras vitórias.

Após as sessões de poker, Karas dirigiu-se ao Horseshoe para jogar Craps, com apostas que chegavam aos $100.000 por lançamento, durante a primavera e o verão de 1993.

No final da sua incrível série de vitórias, Karas estava com um saldo positivo de $40 milhões.

Archie Karas – A Queda

amuleto poker
A Incrível Maré de Sorte de Archie Karas

Tal como a maioria dos jogadores sabe, todas as marés de sorte acabam por terminar. E o mesmo aconteceu a Karas. Em 1995, ele perdeu uma parte significativa dos seus ganhos em apenas três semanas.

A sorte na mesa de craps virou, e ele perdeu vários milhões de dólares, seguido de mais uma quantia considerável para Reese na mesa de poker. Perdeu ainda mais – até $30 milhões – a jogar baccarat high stakes. Se antes parecia ser incapaz de perder, agora Karas parecia incapaz de ganhar.

Eventualmente, esgotou o seu último milhão de dólares nas mesas de craps, depois de alguns jogos de poker heads-up contra Johnny Chan e Lyle Berman em Los Angeles. As perdas de oito dígitos nunca pareceram abalar Karas.

“É preciso perceber uma coisa,” disse ele à revista Cigar Aficionado em 2008. “O dinheiro não significa nada para mim. Eu não o valorizo. Já tive todas as coisas materiais que podia querer. Tudo.

“As coisas que eu quero o dinheiro não pode comprar: saúde, liberdade, amor, felicidade. O dinheiro não me interessa, por isso não tenho medo. Se o perder não me importo.”

Archie Karas – O Legado

A morte de Karas fez manchetes em todo o mundo. A sua jornada em Las Vegas e a história de ganhar milhões para depois ver tudo desaparecer capturou a imaginação de muitos. Embora a maioria das pessoas nunca apostasse valores tão altos, muitos jogadores podem relacionar-se com o sonho de uma maré épica nas mesas de poker cash games e nos casinos.

No entanto, nem tudo na vida de Karas nos casinos é lembrado de forma positiva. Konik sublinhou que o Grego também era alegadamente um batoteiro, com agências de segurança de casinos a classificá-lo como um batoteiro com os dados e marcador de cartas.

Mas ironicamente, a sua maré de sorte nas mesas foi considerada jogo limpo. A segurança dos casinos e os vídeos de vigilância mantiveram-no sob uma apertada vigilância enquanto jogava com apostas tão altas.

Anos após essa maré positiva, Karas sofreu outro golpe na sua reputação, em 2013, quando foi considerado culpado de batota no blackjack num casino em San Diego. O staff alegou que ele voltou a marcar cartas, e foi banido de todos os casinos do Nevada e incluído na “lista negra” de jogadores excluídos do Estado.

Ao olhar para a vida única de Karas no poker e nos jogos de sorte e azar, a maioria dos jogadores provavelmente não se vê a fazer apostas tão elevadas. Para Karas, essa vida era normal.

“A razão pela qual você ou eu nunca ganharemos vários milhões a apostar é porque somos pessoas racionais e sensatas,” escreve Konik.

“Nunca chegaríamos ao ponto em que milhões de dólares estão em jogo porque pararíamos de jogar assim que ganhássemos $50.000, $20.000 ou até mesmo $10.000. Archie Karas não conhece a palavra parar.”

Sean Chaffin é um escritor freelancer em Crandall, Texas. O seu trabalho surge em vários websites e publicações. Siga-o no Twitter @PokerTraditions. É também o apresentador do podcast True Gambling Stories, disponível no iTunes, Google Play, TuneIn Radio, Spotify, Stitcher, PokerNews.com, HoldemRadio.com e outras plataformas.